sexta-feira, 14 de maio de 2010

terça-feira, 11 de maio de 2010

terça-feira, 4 de maio de 2010

Devagar com o andor...


A convergência parece estar exigindo de todos os criadores de conteúdo um casamento com a interatividade. É como se estivéssemos (falo como roteirista) roubando uma parte da humanidade do público confeccionando algo que se preste a mais pura e simples contemplação.

Imaginem Jesus ou Maomé pesquisando entre seus seguidores em busca de opiniões a respeito de como organizar os seus respectivos movimentos e filosofias. Quão mais amplo fosse o numero de mãos a escrever testamentos, menor seria a coerência dos mesmos, não?

A televisão e o cinema, entre outras mídias, se prestam á veiculação de produtos com inicio meio e fim. Não se trata apenas de uma demonstração de respeito pelas leis conhecidas da física, mas da reprodução da lógica de uma conversa. Como responder a uma pergunta sem ouvi-la até o fim? Um ateu que não foi vitima das tentativas de proselitismo será para sempre refém daqueles que dizem que ele não sabe o que está perdendo...

É claro que um artista que insiste na interatividade, que insiste em fazer do publico um assistente para a conclusão de uma obra qualquer, não está de fato abrindo mão da autoria de sua criação. Que o diga John Lennon.

Quando ele subiu a escada para pegar a lupa pendurada no alto e ler o que Yoko Ono havia escrito na parede o que ocorreu foi apenas uma das conclusões previstas pela mãe de Sean Lennon (período longo? Aproveite para respirar agora no caso de leitura em voz alta) ...

A interatividade é pouco mais do que uma ilusão de co-autoria. Os efeitos sobre John não foram necessariamente mais intensos do que os que adviriam da contemplação de um filme de Fritz Lang, de uma tela de Picasso ou mesmo da leitura de um livro de Paulo Coelho ou Chico Buarque de Holanda...

O aviso aos navegantes é simples, trata-se apenas de um alerta para que não se entreguem obrigatoriamente à interatividade. Temos, mais uma vez, a oportunidade de escolher entre a convivência de várias linguagens e sotaque artísticos e o usual “genocídio” criativo promovido por novidades técnicas ou subjetivas...

por Pablo Habibe, polemista aleatório...