quinta-feira, 29 de julho de 2010

Cultura em São Luís é o Que Há!

Inspirado na Virada Cultural de São Paulo, o "São Luís de Virada" promete trazer visibilidade aos artistas independentes de São Luís


Acontece a partir desta quinta (29), e prossegue até o sábado (31), em São Luís a manifestação artística “São Luís de Virada”. O evento será realizado na Rua do Giz, na Praia Grande, em frente à pousada Portas da Amazônia, a partir das 18h.
O evento traz diversas manifestações artísticas, desde o graffiti à fotografia. Todo o evento é realizado numa perspectiva colaborativa. O objetivo é promover a transformação social por meio da mobilização na arte, ao mesmo tempo em que propõe a interação com as novas mídias. A primeira edição do “São Luís de Virada” pretende ainda dar visibilidade à produção artística independente na capital maranhense.
Com instalações urbanas, Ghuga Távora, idealizador do evento, traz artistas e obras da sua iniciativa “Imaginauta”, que realizou na Virada Cultural deste ano em São Paulo. São pinturas, cartuns, graffiti, fotografias, e performances das mais variadas maneiras. Além das exposições, será realizada a projeção de curtas. Todos os dias haverá também a participação de artistas que fazem parte do DJset do bar Odeon Sabor&Arte rolando um som durante o evento junto com  “As Infernandas”, Carol Aragão, Hugo, Paulo Vale e Marcos Gatinho.

Os artistas interessados em expor sua produção devem entrar em contato através do e-mail ghugatavora@gmail.com, pelo site HTTP://saoluisdevirada.blogspot.com ou pelo telefone (98) 8804-9070. Qualquer pessoa pode participar, a entrada é gratuita. Quem quiser pode levar sua câmera fotográfica, tinta spray ou guarda-chuva para participar das atividades. A inscrição é necessária somente para a mostra de blogs “Hora Blogs” e para a exposição de obras.

Programação:
Quinta-Feira (29)
18h – Work in Progress: ocupação da Rua do Giz com as artes do grupo Imaginautas Virada Cultural SP 2010 (imaginautasviradaculturalsp.blogspot.com).
Com a presença dos artistas Nat Maciel, desenho (MA); Luiza Peixe, stencil (SP); Paulo Bueno, graffiti e pintura (SP); Diego, graffiti (SP); Ladrilhos, Coletivo Fotográfico (PR); Cyane Pacheco, desenho (PE); Felipe, Câmara Revista Traça (PE); Caio Vitoriano, design gráfico (RN); GHustavo Távora, fotografia (PE); Nelson Logullo, fotografia (PR); Jonilson Bruzaca, cartum (MA) e artistas convidados!
19h - Olha Pro Céu Meu Amor: Vídeo Instalação Urbana com a Mostra Imaginauta: videoarte e fotoartes do acervo criativo do projeto.
Graffiti in the Rain: Performance com graffiti a qualquer momento da noite, em que são feitas “grafitagens” em guarda-chuvas,

Sexta-Feira (30)
20h – Horablogs: 1 hora de apresentação de blogs de São Luís (qualquer pessoa pode inscrever seu blog), apresentando também o blog do Projeto O Céu Sem Eternidade,
 idealizado por Eliane Caffé e realizado colaborativamente.
21h - O Céu de GH: Curtas criados por GHustavo Távora a partir da sua vivência com o projeto O Céu Sem Eternidade.
22h - Disco Dance: Discotecagem com Cinema. DJSet ODEON.

Sábado (31)
19h - Ruídos do Tempo: Mostra especial do curta de André Garros e Gabriel Carvalho. 21h - Festival do Minuto CIDADE, mostra de curtas-metragens.
22h - CINE POROROCA: Lançamento da proposta do CinePororoca. Mostra do Projeto Cidades Invisíveis (MG) produzido pela ONG CONTATO.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Uma imersão jornalística



O curioso sobre a Fantástica Fabrica de Chocolate (prefiro a versão de 1971) não é o que ela tem de lúdica, mas que esta alegoria pareça estar perfeitamente onde deveria. As crianças do filme, maravilhadas com maquinas compostas por doces, portas de açúcar e lagos de chocolate, não questionam nada que se lhes apresenta. Parece natural que o produto esteja presente em toda parte.

A idéia do filme era reforçar a percepção infantil que associava a fabrica ao produto. Da mesma maneira que nunca se retrata a oficina de Papai Noel com manchas de graxa, a primeira imagem de uma fabrica de chocolates não é metálica.

Minha primeira impressão em visita recente às instalações do Sistema Mirante foi mais ou menos a mesma. Uma “usina de noticias” tem de refletir o que faz desde a primeira vista. Redações e estúdios estavam recheados de referencias ao jornalismo e ao que esperamos encontrar onde são produzidos jornais, programas de rádio e TV.

Todos os ambientes contavam com monitores transmitindo a programação da casa, jornais sobre todas as mesas e estações de trabalho se equilibrando entre a individualidade e o fácil acesso a meios e pessoas. A onipresença do produto onde ele é confeccionado parece ajudar na imersão, contribuindo para lubrificar um engenho que possui engrenagens humanas.  

Esta imersão, por sua vez, ajuda o funcionário a se “vestir de jornalista”, da mesma maneira que a capa faz Clark Kent personificar o Super Homem. Todos lá pareciam saber exatamente o que estavam fazendo, detalhando os seus procedimentos com a naturalidade de quem não está mudando de assunto.

O novo estúdio para o jornal local, em fase de acabamento, é anexo à redação que, por sua vez, tem fácil acesso ao arquivo e aos estúdios das rádios AM e FM, bem como ao complexo onde se produz o jornal impresso. Parte das estações de trabalho será visível para os telespectadores da mesma maneira que nos telejornais nacionais (da Rede Globo), trazendo o público um pouco para dentro desta “linha de montagem”.

Pode-se inferir que esta reforma estrutural reflete metamorfoses pelas quais a sociedade em que a referida empresa está inserida passa atualmente. Para além do simbólico milhão de habitantes, as relações sociais em São Luis vem deixando de se dar através de pessoas físicas, com um sensível aumento da importância das jurídicas _ algo comum numa economia que ganha complexidade.

Não deixa de ser curioso que este incremento de profissionalismo atinja a cidade num contexto em que o mundo vê a tecnologia diminuir dramaticamente os custos da divulgação de noticias com a convergência de ferramentas de produção e mídias trazidas pela internet e o computador pessoal. “Se La vie..”.

Não parece ser coincidencia que os funcionários gostem de frisar que a população se refere à empresa como “Mirante” e não “Globo”, como no caso de afiliadas de outros estados. Sinal de uma personalidade a parte que a equipe de marketing trabalha para reforçar interna e externamente. 

por Pablo Habibe, polemista aleatório (relatório para a disciplina Gestão de Empresa Jornalística). 

terça-feira, 13 de julho de 2010

Breganejo Blues, uma novela trezoitão...



Um lugar comum secreto de conhecimento geral...
Azevêdo, Bruno
Breganejo Blues: Novela Trezoitão/Bruno Azevêdo. São Luís: Bruno Azevêdo/Pitomba, 2009.
ISBN: 978-85-909824-0-1, CDD 869.098 121 83, DCU 821.134.3 (81201)-32

Breganejo Blues é uma boa pedida para aqueles cujo O Mulato foi o ultimo livro “maranhense” a pousar em mãos. Não que se tenha parado de escrever livros (ou algo do gênero) por aqui, mas parece ser e, me corrijam se eu estiver errado, o surpreendente virar de pagina para o século XX tão ignorado por São Luis, eternamente apaixonada pelos defuntos oitocentos.

Surpreendente porque ninguém aqui parece fazer a menor força para se livrar do cadáver oitocentista, ao contrário, cuidamos da arquitetura colonial como cuidam do cadáver de Lênin, alternando a desculpa histórica com a turística sem o menor pudor. O Breganejo se passa, ainda que discretamente, numa São Luis que conhecemos bem e ignoramos com nojo, a dos bares e artistas “bregas”, “sertanejos” e boates “gays”, uma cidade que vive como vermes que se alimentam dos restos mortais do século XIX sem lhe dar qualquer significado que não o imediato e utilitário.

Discretamente porque não se preocupa em explicar a presença do cadáver na sala, usa-o antes como um sofá ou calçada para passear pela cultura viva do povo ignorado pela academia (não sem alguma razão). As personagens principais são uma dupla sertaneja _ Adailton e Adhaylton _ que, seguindo o exemplo fortuito ou não da realidade, forja a morte de um deles em nome da “industria cultural” e da satisfação pessoal, a preocupação é mesmo com o próprio umbigo e as banalidades conhecidas de todos, dinheiro, sexo e poder.

Uma ultima personagem digna de nota é o dublê de taxista e detetive particular que serve de catalisador para o desenrolar da trama, mais não digo por respeito a quem _ diferentemente de mim _ dá mais valor ao suspense que a obra em si. Aliás, vocês que são assim, diferentes de mim, evitem o prefácio. Mais parece que o “prefacista” quis se apossar da obra contando-a em detalhes desnecessários e “estraga prazeres” para uns tantos. Melhor que a segunda edição venha com outro ou nenhum prefácio, corrigindo este que parece ser o único problema intransponível entre a capa e a contracapa.

Convém lembrar que o texto vem numa estética que mais lembra um roteiro de vídeo ou cinema, entremeado por quadrinhos do Tex (aquele mesmo, o cowboy favorito de motoristas profissionais em geral e de teu avô), trata-se de um aviso realmente útil para aqueles que ainda lembram do final de O Mulato...

P.S: Bruno Azevedo (cognome Feto), o autor, é ex integrante da extinta banda Katarina Mina, agitador cultural no sentido que esta expressão deveria ter e merecedor dos tostões que conseguimos esconder do “leão” financiador de bumba bois e afins que nos assolam.


por Pablo Habibe, polemista aleatório...

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Dica de Leitura


A alma chilena em "Inés da minha alma"


Foram necessários quatro anos de mergulho em livros de história, artigos e obras de ficção para que Isabel Allende escrevesse o seu mais novo romance épico: Inés da minha alma. Marcada pelo idealismo das personagens, a obra é ambientada no Chile do século XVI durante o período da colonização espanhola. Embora a fidelidade histórica não seja nenhuma pretensão da autora, a bibliografia utilizada para a composição do romance nos permite um desvelamento prazeroso da formação cultural de um povo encravado entre a aridez do Atacama, a altitude andina, o azul do Pacífico e os bosques austrais. “Esta é uma obra de intuição, mas qualquer semelhança com fatos e personagens da conquista do Chile não é casual”, anuncia o prólogo do livro.

Inés Suarez (1507-1580), protagonista e narradora-personagem nascida em Plasencia, no norte de Extremadura (Espanha), é uma quituteira e cosedora que se lança ao Novo Mundo em busca de seu marido, Juan de Málaga, um dos tantos aventureiros europeus impulsionados a cruzar o Atlântico pelas notícias promissoras de enriquecimento em terras americanas. Ao chegar a Cuzco, então sede do Vice-reino do Peru, Inés é informada da morte de seu companheiro, iniciando pouco depois um envolvimento afetivo com Pedro de Valdivia, um dos homens mais ricos e poderosos das possessões hispânicas na América, mestre-de-campo do governador Francisco Pizarro.

Embalada pela “paixão cega, desatada” compartilhada com o mestre-de-campo, a viúva espanhola decide seguir Valdivia no projeto de dominação do Chile, o “lugar onde a terra acaba”, no qual almejavam fundar “uma sociedade justa baseada no trabalho duro e no cultivo da terra, sem a riqueza mal havida nas minas e com a escravidão”. Percebe-se nesse momento um dos ápices de idealização que o romance apresenta: obviamente, o caráter humanitário de justiça não era uma dádiva dessas expedições; os atrativos eram a fama militar com vistas a obter benesses da Coroa e a possibilidade de enriquecer com a descoberta de reservas auríferas.

Após meses de travessia no deserto do Copiapó, o séquito de Pedro de Valdivia funda, às margens do rio Mapocho, a cidade de Santiago da Nova Extremadura (atual capital do Chile), em cuja descrição nota-se um tom um tanto quanto edênico: “céu azul intenso, um ar luminoso, uma mata exuberante e terra fértil, banhada por arroios e por um rio caudaloso [...]; esse era o lugar designado por Deus para estabelecer nossa primeira povoação”. A partir desse feito, os esforços dos colonizadores espanhóis voltam-se para a luta sanguinária contra as tribos indígenas da região, em especial contra os Mapuches (em língua mapudungum, gente da terra), que resistem homericamente aos ultrajes dos invasores ibéricos. E é assim, regada a paixão e sangue, que a trama vai sendo construída, alçando a figura de Inés Suarez à estirpe de matriarca da nação chilena.

Mais que uma ode à costureira de Plasencia desbravadora da América, Inés da minha alma é uma obra tocante por reconhecer, de forma tão rica estilisticamente, a alma chilena fecundada por vícios e virtudes de povos distintos, livrando-nos de pieguices maniqueístas.

Por Leonardo Costa